terça-feira, 27 de abril de 2010

Boicote ao couro de áreas desmatadas da Amazonia

As grandes consumidoras de couro brasileiro estão de olho nos novos passos dados pela cadeia produtora. Nesta terça-feira, o Leather Work Group (LWG) – uma coalização formada por empresas como Adidas, Timberland e Nike – soltou um comunicado reiterando o compromisso em não comprarem mais couro que venha de áreas desmatadas na Amazônia.

A nota veio poucas semanas depois que os três maiores frigoríficos do Brasil – JBS, Marfrig e Minverva – pediram mais prazo para mapear seus fornecedores e garantir que sua produção não está envolvida com a destruição da floresta.

O LWG ressalta a importância de medidas governamentais para um monitoramento eficaz na região. E reafirma que suas compras serão canceladas caso as empresas processadoras de couro não comprovem a origem do produto. No dia 5 de julho, termina o novo prazo acordado entre os frigoríficos para isso.
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/empresas-consumidoras-de-couro-contra-o-desma/blog/6624

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Revitalizando o chuchu

José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo
O chuchu está entre as dez hortaliças mais consumidas do Brasil, mas recebe pouca atenção dos órgãos de pesquisa. Apesar da larga tradição de consumo, até hoje não foram desenvolvidas variedades que incorporem melhoramentos genéticos, nem há mudas ou sementes à disposição. "É uma cultura esquecida", diz o pesquisador Miguel Francisco de Souza Filho, do Instituto Biológico (IB-Apta).

Ele coordena um trabalho iniciado pela Secretaria de Agricultura paulista para tentar tirar do ostracismo essa hortaliça da família das cucurbitáceas, originária do México. Em março, o pesquisador coordenou um encontro com produtores de Amparo (SP), para discutir os problemas da cultura, sobretudo no aspecto sanitário.

Antes, ele já realizara um amplo diagnóstico da situação em propriedades da região. O próximo passo será elaborar um projeto temático para a cadeia do chuchu, envolvendo a parte fitotécnica, manejo da cultura, irrigação e suporte comercial. "A ideia é desenvolver o projeto e mandar para órgãos de fomento para que o chuchu vire alternativa real de renda."

Familiares. Conforme o pesquisador, o chuchu é uma cultura de pequenas propriedades, própria para a agricultura familiar. São Paulo está entre os principais produtores, sendo Amparo a área de maior produção. Há culturas expressivas também em Iguape, litoral sul de São Paulo, Mogi das Cruzes e Parelheiros, na Grande São Paulo, e Sorocaba.

Clima. Em razão do clima tropical e subtropical do Estado, o chuchu pode ser cultivado em qualquer estação, com produção o ano todo. Souza Filho visitou pessoalmente 18 produtores na região de Amparo, em vários meses do ano passado, para verificar os principais problemas da cultura. Segundo ele, todos os produtores cultivam outros hortigranjeiros, mas apenas a metade recebe algum tipo de assistência técnica. O sistema de condução em forma de parreira pode não ser o mais adequado. "Nas regiões mais úmidas, talvez seja melhor o plantio em cerca ou espaldeira."

Mais de 80% dos produtores não fazem rotação de cultura e apenas um fez análise de solo. A maioria adota sistema de irrigação por jato acima do parreiral, prática incorreta, segundo o pesquisador, pois favorece o surgimento de pragas. "A irrigação mais eficiente é por microaspersão próxima da raiz."

Souza Filho detectou pragas importantes para a cultura, como o tripes, inseto que ataca as folhas, o ácaro rajado, comum a outras hortaliças, e a broca da haste, besouro que deposita larvas no interior dos brotos.

Menos significativos, foram detectados surtos de mosca branca e pulgão e, ainda, infestação por caramujos. Em relação ao controle de pragas, ele acredita que a IN 1, do Ministério da Agricultura (Veja pág. 3) pode melhorar a situação do produtor.

"O chuchu pode ser incluído no grupo de hortaliças não folhosas, o mesmo da abobrinha e do pepino." Essa inclusão, segundo o pesquisador, pode gerar o interesse de algumas empresas em fazer o registro de certos defensivos, já que o leque de eventuais consumidores passa a ser maior.

Cooperativas. O pesquisador acredita, ainda, que a união dos produtores em torno de associações ou cooperativas contribui para a evolução da cadeia produtiva. Em Amparo, os produtores criaram há oito anos a Cooperativa dos Produtores de Chuchu, uma das poucas voltadas para a hortaliça. Além de treinar os agricultores, a cooperativa passou a dar suporte técnico, e estimulou a seleção e embalagem.

"Uma coisa simples, que foi a mudança da embalagem de madeira para a de plástico, forrada com papel, resultou em ganho de qualidade", diz o pesquisador. Segundo Souza Filho, os cooperados que investiram na embalagem passaram a ter um diferencial de preço, em razão do ganho de qualidade.

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,sao-paulo-tenta-revitalizar-o-chuchu,538099,0.htm

domingo, 11 de abril de 2010

Brasil envenenado

A reavaliação que os empresários não querem

Para Agenor Álvares, diretor da Anvisa, o Brasil está passando por um momento de transição no controle e na regulamentação do uso de agrotóxicos: “Nós interditamos linha de produção na BASF, na Bayer e na Syngenta, que são as três maiores do mundo”, afirma. É uma mudança de postura que obviamente não agrada a todos.

por Silvio Caccia Bava

O Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo e representa 16% da sua venda mundial. Em 2009, foram vendidas aqui 780 mil toneladas, com um faturamento estimado da ordem de 8 bilhões de dólares. Ao longo dos últimos 10 anos, na esteira do crescimento do agronegócio, esse mercado cresceu 176%, quase quatro vezes mais que a média mundial, e as importações brasileiras desses produtos aumentaram 236% entre 2000 e 2007. As 10 maiores empresas do setor de agrotóxicos do mundo concentram mais de 80% das vendas no país.

Esses produtores viram ameaçadas suas novas metas de faturamento com o anúncio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de que se propõe a reavaliar o uso de 13 produtos agrotóxicos, vários deles já proibidos há anos nos EUA, na União Europeia, e em países como Argentina, Nigéria, Senegal, Mauritânia, entre outros, como o acefato e o endossulfam. Os motivos dessa proibição são evidentes, a contaminação de alimentos, de trabalhadores rurais, e do meio ambiente, causando, literalmente, o envenenamento dos consumidores, a morte de trabalhadores rurais e a destruição da vida animal e vegetal.

Em solicitação ao Ministério Público para a proibição de um desses agrotóxicos – o Tamaron – os então deputados federais Fernando Dantas Ferro, Adão Preto e Miguel Rosseto denunciam que 5 mil trabalhadores rurais morrem, a cada ano, intoxicados por venenos agrícolas, sendo que muitos mais são afetados de maneira grave pela ingestão dos componentes químicos desses produtos.

Frente à disposição da Anvisa de reavaliar produtos como Gramoxone, Paraquat, Tamaron, Mancozeb, Monocrotfos, Folidol, Malation e Decis, o Sindag – Sindicato das Indústrias de Defensivos Agrícolas – recorreu ao Judiciário, solicitando que não sejam publicados os resultados das reavaliações. Houve mesmo iniciativas no Judiciário que pretendiam proibir os estudos da Anvisa que verificavam a segurança das substâncias de 99 agrotóxicos.

O fato é que o setor ruralista, com o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes à frente, a bancada ruralista e os fabricantes de agrotóxicos se puseram a campo contra a iniciativa da Anvisa, e mesmo contra a própria Anvisa e o seu papel fiscalizador. Segundo documento obtido pela ABRANDH – Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos, o Ministério da Agricultura quer ser o responsável pela avaliação e registro dos produtos agrotóxicos.

Para Rosany Bochner, especialista em toxicologia da Fiocruz, instituição parceira da Anvisa no trabalho de reavaliação dos agrotóxicos, “o Brasil está virando um grande depósito de porcarias. Os agrotóxicos que as empresas não conseguem vender lá fora, que têm indicativo de problemas, são empurrados para a gente”.1

Em 2002, com o início do funcionamento do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, coordenado pela Anvisa, surgiram informações preocupantes. Das 1.198 amostras recolhidas em nível nacional, 17,28% apresentavam índices de contaminação acima do permitido para se preservar a saúde. O tomate, o morango e a alface são os mais contaminados. Se você come amendoim, batata, brócolis, citros, couve, couve-flor, feijão, melão, pimentão, repolho, entre outros alimentos, cuidado! Eles contêm acefato, um agrotóxico que pode causar danos ao cérebro e ao sistema nervoso e provocar câncer no longo prazo. O acefato é proibido em toda a União Europeia.

Segundo o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor, “o consumidor brasileiro está exposto a um risco sanitário inaceitável, que exige medidas rigorosas dos órgãos governamentais responsáveis, inclusive com a punição dos infratores”.

Essa denúncia decorre do levantamento e análise da Anvisa, feito de junho de 2001 a junho de 2002, onde nada menos que 81,2% das amostras analisadas (1051 casos) exibiam resíduos de agrotóxicos e 22,17% apresentavam índices que ultrapassavam os limites máximos permitidos.

Atualmente os agrotóxicos estão em reavaliação tanto pela Anvisa, quanto pelos Ministérios da Saúde e Meio Ambiente. E espera-se que até o final do ano seja divulgada uma nova lista dos agrotóxicos que podem continuar sendo vendidos e os que serão banidos do território brasileiro.

Ainda não existe uma ação integrada desses organismos públicos responsáveis por essa tarefa de fiscalização, mas segundo Agenor Álvares, diretor da Anvisa, a integração é algo indispensável, até para enfrentar a proposta do setor ruralista, que é inaceitável.
Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.